Um Privilégio Custoso
Reportagens da Folha de S.Paulo revelam que, entre janeiro de 2023 e fevereiro de 2025, os ministros do STF realizaram ao menos 154 viagens em aviões da FAB, muitas solicitadas diretamente pela Corte após abril de 2024, quando o Tribunal de Contas da União (TCU) autorizou o sigilo dos dados por "razões de segurança". Cada hora de voo de um jato como o Embraer Legacy, comum na frota da FAB, pode custar mais de R$ 40 mil, segundo estimativas baseadas em dados do Comando da Aeronáutica e reportagens especializadas. Considerando dezenas de voos anuais, o impacto nos cofres públicos alcança milhões de reais – um ônus que recai sobre os contribuintes.
O STF e o Ministério da Justiça justificam a medida apontando "gravíssimas ameaças" aos ministros após os ataques de 8 de janeiro de 2023, quando extremistas invadiram as sedes dos Três Poderes. Mas o uso frequente das aeronaves, como as 215 viagens do presidente do STF, Luís Roberto Barroso, desde setembro de 2023, levanta dúvidas sobre a real necessidade de tantas deslocações oficiais – e se todas são, de fato, institucionais.
Transparência sob Sigilo
Bruno Morassutti, da organização Fiquem Sabendo, também questionou a decisão em reportagem da mesma publicação: "É preciso avaliar se o sigilo realmente protege ou apenas reduz a transparência." A ausência de dados concretos sobre os passageiros – que podem incluir familiares, como já registrado em casos de outros ministros do governo – alimenta suspeitas de abuso e dificulta a accountability.
O Custo Político da Distância
Para o advogado constitucionalista André Marsiglia, especialista em liberdade de expressão, "o STF precisa se reconectar com a sociedade, e isso passa por transparência, não por privilégios que a afastam ainda mais". O contraste é evidente: enquanto milhões de brasileiros enfrentam transporte público precário, os magistrados viajam em aeronaves militares sem prestar contas.
Um Chamado à Revisão
O uso de aviões da FAB pelo STF e o sigilo de cinco anos sobre os passageiros não são apenas questões logísticas – são um teste para a democracia. A justificativa de segurança não pode servir de escudo para a falta de transparência, especialmente quando o custo recai sobre uma sociedade que não escolheu o distanciamento da Corte. O governo e o STF devem rever essa prática, garantindo que o dinheiro público não banque uma blindagem que, em vez de proteger, isola.
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Fontes
1. Folha de S.Paulo – "Governo empresta aviões da FAB ao STF e põe lista de passageiros em sigilo por 5 anos" (9 de abril de 2025): Reportagem base para os dados sobre voos, sigilo e justificativas oficiais.
2. Poder360 – "Governo Lula empresta aviões da FAB a ministros do STF" (10 de abril de 2025): Confirmação do número de viagens e detalhes sobre a decisão do TCU.
3. Transparência Brasil e Fiquem Sabendo: Citações de Marina Atoji e Bruno Morassutti extraídas de matérias da Folha sobre o tema, refletindo críticas reais ao sigilo.
4. Dados da FAB e estimativas de custo: Baseados em reportagens anteriores sobre voos oficiais (ex.: O Globo, 2023) e informações públicas do Comando da Aeronáutica.
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