Carta Aberta aos Nobres Vereadores e Gestores de Camamu

Camamu, Bahia, 2 de junho de 2025

Prezados Vereadores e Gestores de Camamu, 

Como cidadão que deseja o melhor para nossa cidade, escrevo esta carta para pedir ações concretas em prol do povo que os elegeu. Camamu, com seus 465 anos, não pode continuar enfrentando os mesmos desafios históricos sem soluções duradouras. 

Nas sessões da Câmara de Vereadores, discutem-se exaustivamente temas como o patrolamento das estradas vicinais, o acesso precário aos povoados e as dificuldades no transporte escolar durante os períodos chuvosos. Essas discussões são necessárias, mas precisam se traduzir em resultados concretos que atendam às reais necessidades da população. O cascalho, embora útil, é apenas um paliativo; algumas estradas demandam asfalto para garantir mobilidade digna e segura. 


Não posso deixar de mencionar os oportunistas que, ao se elegerem, passam três anos sem apresentar projetos significativos que beneficiem o povo e, às vésperas do pleito eleitoral, tornam-se críticos ferrenhos do prefeito e até de colegas que trabalham de fato. Só então parecem descobrir que Camamu existe e que há um povo sofrendo. Surgem, assim, fotos e vídeos de estradas esburacadas, escolas sem pintura ou reformas, de poças e lamaçais. Não se deixe enganar por esses falsos políticos.

Quando os nobres vereadores, que verdadeiramente se dedicam, transformarão essas discussões em ações que tragam soluções reais para a população, que espera há tanto tempo? Será que o “muito” que se comemora, com fotos de estradas patroladas e cascalhadas, não poderia ser mais duradouro com o uso de asfalto, atendendo de forma mais efetiva às demandas do povo? 

Recentemente, conversei com alguns desses vereadores sobre a situação da saúde em Camamu. Pacientes em estado de emergência são levados às pressas para Itabuna, em vez de Valença, que deveria ser o polo de saúde da região. O motivo? O hospital de Valença, responsável por atender pacientes de 22 cidades vizinhas, não possui estrutura suficiente, especialmente para casos graves. Itabuna, que já é referência para mais de 57 municípios, acaba recebendo também pacientes que deveriam ser atendidos em Valença.

Camamu precisa se unir a outros municípios e, junto aos prefeitos dessas cidades, articular a construção de um hospital mais próximo — entre Valença e Camamu — ou, por que não, em Camamu? Assim, a população dessas 22 cidades estaria mais próxima do socorro necessário em emergências.

Estamos perdendo vidas!
Ivan, conhecido como Baiacu, do Acaraí, foi levado em estado grave para Itabuna. Deu entrada às 15h e ficou no corredor, aguardando atendimento, que só ocorreu no dia seguinte, às 9h. Infelizmente, não foi possível salvá-lo a tempo — não por falha da instituição de saúde, mas devido à alta demanda de pacientes.

Até quando a população de Camamu e de outras 22 cidades continuará enfrentando essas dificuldades? Até quando perderemos vidas por causa de uma política que não pressiona os governos estadual e federal para garantir os direitos dos cidadãos? Hospital, universidade, saneamento básico e moradia são direitos fundamentais, não favores ou indicações de vereadores, deputados ou senadores! 

Observação: Nesta carta, não comentarei sobre a matéria publicada pelos jornais Atarde e Correio, referente ao ranking do IPS Brasil, que avalia as melhores e piores cidades do país em termos de qualidade de vida. Nos critérios de segurança pessoal, saúde, educação e moradia. Camamu aparece entre as piores, com média de 46,43 em um total de 100 pontos. Aguardarei a manifestação da prefeitura, pois a pesquisa se refere ao que já foi aplicado nessas áreas, e ainda estamos no início da gestão atual.

O Acaraí, um paraíso esquecido no tempo, espera há mais de 200 anos por um olhar mais atento.

Lembro-me, ainda criança, de ver caminhões na praça da Igreja da Conceição carregados de sacas do nosso cacau. Tropas de burros e cavalos tomavam banho no Rio Acaraí após trazerem cargas das roças ou retornarem de longas viagens, transportando o produto para outras cidades, já que as estradas, intransitáveis, não resistiam sequer a uma simples chuva.

Naquela época, o Acaraí abrigava depósitos de armazenamento de cacau e cravo, como os de Dalmo Souza e Chico Só. Já se falava, inclusive, em cascalhar as estradas, até mesmo as do Varjão — e, 55 anos depois, ainda se fala em cascalhar as estradas, como indicação de vereador.
Os mais velhos contavam que “a feira de Camamu era no Acaraí” — verdade ou não, essa história reflete a importância de uma comunidade que, hoje, se sente negligenciada.

Lembro também de ficar escondido, ouvindo as conversas dos políticos e empresários de Camamu na sala da casa do meu avô, Anphilófio Mendonça. Nessas conversas, falava-se de política e negócios, da necessidade urgente de desenvolvimento para Camamu. Pessoas importantes participavam desses diálogos, como Valter Barbosa, Zezito, Zé Maurício, Antônio de Zezito, Antônio Matos, Dr. Chiquinho, André Bernardo e Luiz Inácio – embora nunca tenham se reunido todos juntos.

Reconheço que, para os governantes, alguns avanços foram feitos: calçamentos, um posto avançado de saúde da família e investimentos na educação. A comunidade agradece, mas, se considerarmos o custo desses benefícios frente ao tempo de espera ou à quantidade de votos depositados nas urnas ao longo dos anos, o investimento não chega a um real por dia. Em mais de 25 anos de pedidos de socorro, o Acaraí, agora reconhecido como comunidade quilombola, alcançou um novo patamar na história política do Brasil, mas ainda aguarda políticas públicas consistentes do governo federal, que muitas vezes têm caráter eleitoreiro. 

Nobres vereadores, a responsabilidade também está em suas mãos.

Na última sessão da Câmara, a tristeza e o desânimo eram palpáveis: vereadores reclamaram que indicações feitas ainda na gestão anterior seguem sem atendimento — como o conserto do telhado do mercado de artesanato, solicitado em 2021 pela Secretaria de Turismo, à época.

Nos últimos dias, tenho notado comentários de comerciantes nas redes sociais sobre a ausência de indústrias e a necessidade urgente de geração de empregos, sob o risco de o pequeno comércio estagnar e os trabalhadores enfrentarem longas filas em busca de oportunidades.

A harmonia entre os poderes só será possível quando os direitos dos cidadãos — os eleitores que os escolheram — forem plenamente respeitados.

Espero que esta carta sirva como um apelo sincero à responsabilidade de cada um de vocês. Camamu e suas comunidades, como o Acaraí, Tapuia, Barcelos, Orojó, Travessão e tantas outras, não podem mais esperar. É hora de transformar promessas em ações, de lutar pelos direitos dos eleitores e de honrar a confiança desse povo. 

Nobre Prefeito Jairo Cruz,

Acreditei — e ainda confio — em suas palavras quando, durante a campanha no Acaraí, o senhor me disse:
“O projeto que tenho para o Acaraí vai mudar o Acaraí.”

Espero, ao final do seu mandato, poder escrever uma matéria registrando seu nome na história do Acaraí e destacando seus feitos por Camamu, celebrando avanços que tragam dignidade à nossa gente.

Atenciosamente, 

Adelmo Rocha  

Um Cidadão de Camamu 

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