Por Adelmo Rocha – 1º de abril de 2025
Uma denúncia explosiva abalou as relações entre Brasil e Paraguai nas últimas semanas: a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) teria orquestrado uma operação hacker para acessar informações confidenciais do governo paraguaio. O alvo? Dados estratégicos sobre as tarifas da Usina de Itaipu, que teriam dado ao Brasil uma vantagem nas negociações concluídas em maio de 2024. O caso, que mistura espionagem digital e intriga política, pode custar caro ao governo Lula e à diplomacia brasileira.
Hackers a Serviço do Estado?
Reportagens recentes, como a publicada pelo UOL, revelam que a Abin usou ferramentas avançadas, incluindo o programa Cobalt Strike, para invadir sistemas do Congresso, Senado e até da Presidência do Paraguai. A operação teria sido idealizada em 2022, durante o governo Bolsonaro, mas executada entre 2023 e 2024, já sob a administração de Luiz Inácio Lula da Silva. Agentes da Abin, em depoimentos à Polícia Federal, admitiram que o objetivo era coletar informações sensíveis para fortalecer a posição brasileira na revisão do Anexo C do Tratado de Itaipu.
O Palácio do Planalto nega qualquer responsabilidade direta, alegando que a operação foi suspensa em março de 2023, antes da posse oficial do atual diretor da Abin, Luiz Fernando Corrêa. No entanto, evidências sugerem que as atividades continuaram até o ano passado, o que coloca em dúvida a versão oficial e levanta suspeitas sobre o envolvimento da cúpula do governo.
Tensão no Mercosul
No Paraguai, a reação inicial foi contida. O ministro das Relações Exteriores, Rubén Ramírez Lezcano, disse que o governo está apurando os fatos, mas ainda não há um posicionamento definitivo. Nos corredores diplomáticos, porém, especula-se que Assunção possa exigir esclarecimentos formais ou até recorrer a instâncias como o Mercosul para pressionar o Brasil. “Se confirmado, isso pode ser visto como uma traição à parceria histórica em Itaipu”, afirma João Carlos Mendes, analista de relações internacionais da PUC-SP.
A crise ameaça desestabilizar ainda mais o Mercosul, já tensionado por disputas econômicas. O Paraguai poderia buscar compensações ou mesmo questionar o acordo de 2024, o que afetaria diretamente o fornecimento de energia ao Brasil.
Reflexos em Brasília
No cenário doméstico, o escândalo virou munição para a oposição. Políticos alinhados a Bolsonaro acusam Lula de hipocrisia, apontando que o discurso de transparência do PT não resiste aos fatos. “O governo atual herdou o plano, mas deu continuidade. Quem manda na Abin é Lula”, disparou um deputado da ala bolsonarista em redes sociais.
A base aliada, por sua vez, tenta dissociar o presidente da polêmica, atribuindo a responsabilidade ao governo anterior. Mas a permanência da operação sob Corrêa, aliado próximo de Lula, complica essa defesa. A PF, que já investiga supostas irregularidades na Abin, pode ampliar o escopo da apuração, colocando o governo em uma posição delicada.
O Que Está em Jogo?
Caso a ilegalidade seja comprovada, o Brasil corre o risco de enfrentar represálias internacionais, como denúncias em fóruns globais de cibersegurança. Para o Paraguai, o episódio pode ser uma chance de renegociar termos mais favoráveis em Itaipu. Já em Brasília, o desgaste político pode forçar mudanças na Abin ou até a saída de Corrêa, cuja gestão já é alvo de controvérsias.
Enquanto a investigação avança, o caso expõe os limites da ética em nome de interesses estratégicos. Resta saber quem arcará com as consequências – e se o preço da energia de Itaipu justificava tamanho risco.
Postar um comentário
Obrigado por seu comentário!